Gracefull Degradation

O Dia Que Mudou Meu Destino

E se você pudesse voltar no tempo, para um dia importante, um dia em que seu destino tomou curso, refazer toda sua vida a partir de algum momento critico?
Mas… com um porem! — disse Madame Frederica, com aquele sorriso de quem esta prestes a pregar uma peça.
Porem? Perguntei.
Madame Frederica me olhava com os olhos esbugalhados de excitação, como um profeta louco de praça.
Sim, um porem.
Queria claramente estender o suspense, fazia parte do jogo, eu já entendia isso a essa altura.
Você não poderia escolher qual dia seria! Disse ela triunfante.
Mas quem escolheria então? Perguntei.
A feiticeira, embaralhava suas cartas casualmente, como se nada tivesse acontecido.
Talvez nada tivesse realmente acontecido.
Ainda.
O acaso. Disse ela como se fosse óbvio.
Um jogo dentro de um jogo.

Meu encontro com Madame Frederica foi por acaso. numa tenda esquisita e anacrônica que apareceu do nada no estacionamento de um shopping center qualquer. Ou talvez fosse destino.
Nunca soube muito bem a diferença.
Tudo é por acaso. Disse ela.
Mas e a coisa toda do destino? Perguntei.
O destino é o nó que amarra um acaso ao outro. Ela disse ao desamarrar uma fita da pata do gato que estava no seu colo. O gato saiu andando pela tenda que parecia conhecer bem.
Madame Frederica começou então a fazer uns nós na fita. Estava sempre trabalhando intensamente com as mãos, mesmo enquanto falava.
As vezes ficava vários minutos tao silenciosa quanto os gatos da sua tenda, mexendo com suas cartas, runas o que fosse, como se eu nem estivesse ali. Com a concentração de uma criança e a serenidade de uma velha, ela amarrava vários nós na fita um após o outro. Que destino estaria ela amarrando? Afinal, quem era esta feiticeira e o que ela estava fazendo ali? O que eu estava fazendo ali? Oque iria mudar na minha vida depois disso?

O destino, é arisco como um gato. Afirmou de repente.
O gato no canto da tenda miou, como se concordasse.
Não adianta correr atrás dele o tempo todo, se tentar vencê-lo pelo cansaço, vai se cansar primeiro.
E não há nada pior que se cansar do próprio destino.
Me perguntei se aquilo era algum tipo de conselho exotérico enigmático ou se ela só estava debochando das minhas inquietações.
Pronto, disse ela estendendo a fita para que eu visse.
Olhava a fita como se fosse com ela que falasse. Parecia satisfeita com sua obra.
Essa fita tem sete nós, como um gato tem sete vidas. Disse.
Quando for se deitar, desamarre os sete nós da fita, um por um. Até o ultimo.
Muito importe! Não deixe faltar nenhum nó.
Ao amanhecer. Acordará num dia diferente da sua vida. Pode ser qualquer dia, mas será um dia que pode determinar seu destino. Só ate ai posso te ajudar, o que fazer com esse dia cabe somente a você.
Em que momento minha vida se tornou o que era agora? Que caminhos ela poderia ter seguido? O que poderia ser diferente? O que eu poderia fazer para mudar? Passei a noite assim, desfazendo um a um os nós do meu destino com as minhas próprias mãos. Até que por acaso adormeci. Quando acordei nem precisei consultar o calendário para ter certeza de que dia era, era exatamente o dia seguinte ao anterior, a fita que tinha dormido na minha mão estava meio amassada, mas sem nenhum nó.

Nunca mais vi a tenda de Madame Frederica.

Nunca mais minha vida foi a mesma.

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